ENQUANTO A CANARINHO VAI PIPOCANDO, AS PIPOKINHAS VÃO “MITANDO”.

Na semana passada a seleção brasileira passou por mais um vexame ao perder de virada para o Senegal. O derrota por 4 x 2 em terras lusitanas indica algo? Certamente.

Há pouco, o ponta Vinicius Jr. sofreu com mais um caso de racismo na Espanha. O episódio choca. As reações do jogador, no entanto, desanimam.

Imagino o baixinho Romário passando pelo mesmo. Certamente marcaria dois gols e, com o indicador sobre os lábios, mandaria a torcida adversária calar-se. Vinicius Jr. apenas chorou.

Vitimismo gera fracassos. Enquanto nossos boleiros mantiverem o caricato nasci-pobre-coitadinho-passei-fome-na-favela, levarão um chocolate atrás do outro. Ou pensam que os senegaleses comeram filé mignon na infância?

Luka Modric passou por situações assaz piores na guerra de independência croata: presenciou o assassinato do avô, passou fome, jogou bola sobre destroços de bombardeios. Não por isso se vitimiza.

Já o nosso craque, sempre que leva um chega-para-lá da zaga, cai e reclama com o juiz. Parece um bebê chorão. Quiçá atacasse como o argentino Julián Álvarez, que penetrou a defesa adversária no peito e na raça, marcando importante tento para a classificação da Argentina à final da copa de 2022. Dói mesmo saber que nossos jogadores têm muito mais talento que Álvarez, só não têm a mesma garra.

O velho brio brasileiro repousa no berço esplêndido do passado. Heróis, que outrora não fugiam à luta, hoje se comportam como crianças mimadas. Eu quero! Eu quero! Eu quero! Se não me der, atiro-me ao chão, grito, choro, faço o diabo.

Não por acaso, hoje em dia, muito casamento vira relacionamento tóxico; fiu-fiu vira assédio; repreensão, agressão contra o menor; discussão em casa, violência doméstica. E quase tudo acaba na mesa do juiz, como se, a cada vez que Neymar caísse em campo, o árbitro devesse apitar. E apita!

Um simples debate acalorado no plenário da Câmara dos Deputados já se transforma em machismo, se porventura ocorra entre parlamentares de sexos opostos. Em caso de diferença de gênero, converte-se em homofobia. Tanta frescurinha inviabiliza a própria política.

E o chororô empata o Brasil. Meninos não ganham guerras, homens sim. A vida, como o futebol, são batalhas renhidas. De um país onde homens viraram mulheres e mulheres, crianças, pouco se pode esperar, tanto na vida, quanto nos gramados.

Cotas em universidades não produzem prêmios Nobel, obrigar partidos a lançar candidatos do sexo feminino não melhora a política, contratar funcionários apenas pela orientação sexual não acarreta mais lucros.

Lembro-me de um episódio que se passou comigo no Aeroporto Internacional de Manaus. Uma senhora, visivelmente europeia, assomou ao balcão da Latam falando bom inglês, apesar do sotaque germânico. O atendente, com trejeitos notadamente efeminados, não conseguia comunicar-se com ela. Só houve entendimento quando me dispus a ajudá-los.

Triste realidade: funcionário de empresa aérea não domina o inglês. Admitiram-no apenas pela opção sexual, não pela capacitação? Talvez. O medo da onda de cancelamentos, às vezes, causa esse tipo de problema. Assim o país vai travando.

A maior emissora de televisão brasileira também se rendeu à tal cultura woke. Renovou o quadro. Inventou até de colocar voz feminina estridente para narrar futebol. Apesar das reclamações da maioria dos telespectadores nas redes sociais, a Globo manteve a narradora. Demissão traria riscos desnecessários.

A diretoria da empresa conhece bem o grau de organização das hordas revolucionárias. Paga o pato quem gosta de futebol, ou seja, a maioria dos brasileiros, gente sem tempo para organizar-se politicamente, porque trabalha de segunda a sábado e quer, pelo menos, torcer pelo seu time no domingo sem precisar colocar a tevê no mudo.

A narradora justificou as inúmeras críticas da maneira mais previsível: “não é pela narração, é porque eu sou mulher”, da mesma forma que o tal atendente da Latam justificaria uma possível recusa de contrato: “não é por incapacidade, é porque sou homossexual”. A ameaça de cancelamento põe empresas contra a parede.

Até este autor já passou por algo parecido. Por tecer um comentário em redes sociais sobre o suposto caso de estupro ocorrido no programa A Fazenda, da Rede Record, em 2021, sofri tentativa de cancelamento por parte do coletivo feminista Humaniza.

O grupo mandou ofícios aos Ministérios Públicos Federal e Estadual, às Defensorias Públicas da União e do Estado do Amazonas, ao Conselho Regional de Medicina do Estado do Amazonas e a uma das clínicas em que eu trabalhava.

Organizações revolucionárias miram direto no sustento daqueles que desejam calar. Só não contavam que, dessa vez, encontrariam osso duro de roer como oponente. Só para constar, usei os documentos em questão como papel higiênico.

Depois descobri que o Coletivo Humaniza não humaniza nada. No Instagram da organização há várias postagens defendendo aborto. Esse pessoal posa de defensor dos fracos e oprimidos ao mesmo tempo que promove assassinato de bebês intraútero. E ousem discordar! “Diga-me verdades inconvenientes e eu chamo meu pai”. Pai Estado, claro.

Publicação pró-aborto do Coletivo Humaniza.

Pois eu ousei opinar inoportunamente. Referindo-me ao incidente no programa da Record, envolvendo o cantor Nego do Borel e a modelo Dayane Mello (que se embriagara na noite da suposta violação), escrevi que mulheres não deveriam abusar do álcool, nem vestir-se de maneira muito sensual em festinhas para evitar riscos de violência sexual. O comentário bastou para que se ativasse contra mim o gatilho do cancelamento.

Neste ano de 2023, Mc Pipokinha, queridinha das empoderadas, mandou uma bomba em um podcast: “assédio sexual é a coisa mais normal que existe. Se a pessoa não sabe lidar com o assédio, então não use roupa curta”.

Não que eu seja fã da cantora, mas a agradeço por corroborar-me o raciocínio que quase me custou o sustento. Uma mulher tão admirada pelas “lacradoras” acabou dizendo o mesmo que eu (e o mesmo que pensa a maioria dos brasileiros, embora não divulgue). Obrigado, Pipokinha.

O povo brasileiro, tão alegre alegre e brincalhão há poucos anos, com o aflorar da estulta cultura woke, transformou-se em um bando de gente mal-humorada e cheia de nhe-nhe-nhem. A repórter da Globo Sabrina Simonato, por exemplo, foi beijada em duas ocasiões, ao vivo, por torcedores estrangeiros na copa de 2014 e levou as brincadeiras na esportiva.

Quatro anos depois, na copa da Rússia, a jornalista Júlia Guimarães passou pelo mesmo, só que reagiu de maneira hostil. Em 2016, nas olimpíadas (veja só!), o noticiarista do SporTV Ben-Hur Correa foi beijado ao vivo por belas mulheres em Las Vegas.

Até que ele encarou a situação com bom humor no momento, mas depois classificou o ato como assédio. Que tristeza! O Brasil mudou tanto em tão pouco tempo! Nunca vi Sir Paul McCartney reclamar do ataque das fãs no auge da beatlemania.

Por incrível que pareça, encontram-se lampejos de salvação onde menos se esperaria. Anitta, outro ídolo feminista, em entrevista para a UOL em 2018, deixou bem claro quando perguntada se levanta a bandeira do movimento: “eu levanto a bandeira dos direitos iguais, só acho que hoje em dia tem mudado um pouco essa questão: as pessoas estão achando que é colocar a mulher acima do homem e não é. Pra mim são os direitos iguais mesmo”. Ou seja: tem postura antifeminista. Parece que as pipokinhas decidiram cuspir na cara dos wokes.

Por outro lado, no carnaval deste ano, uma gordinha metida a sexy decidiu posar de globeleza no Instagram. “Ame seu corpo”, mencionava a legenda da publicação. Ao perceber que a maioria das pessoas detestou a foto, dados tantos comentários depreciativos, a moça decidiu sair processando a torto e a direito.

Na cabeça dela, não basta sentir-se bem consigo mesma. Os outros têm obrigação de achá-la linda. Aliás, a tipa acionou na justiça até uma enfermeira que associou obesidade a doença, o que não me espanta, porque até médico que aconselha paciente obesa com dores no joelho a emagrecer tem sofrido cancelamentos.

Por falar em festa e enfermeira, a bela Bruna Marquesine, ex de Neymar, arrumou encrenca com o Conselho Regional de Enfermagem do Estado de São Paulo, por posar de enfermerinha sensual no Halloween de 2021.

A atriz Bruna Marquesine vestida de enfermeira.

Em nota, a autarquia protestou: “por ser uma categoria predominantemente feminina, com mais de 80% de mulheres, a enfermagem sofre os impactos das desigualdades de gênero, o que inclui episódios de violência e assédio. Por esses e muitos outros motivos, é inadmissível que a fantasia de enfermeira, utilizada em carnavais, festas de Halloween e sátiras, continue sendo tolerada pela sociedade, sobretudo por formadores de opinião”.

Bruna Marquesine, outra queridinha das feministas, já aderiu ao movimento “Mexeu com Uma, Mexeu com Todas”, declarou diversas vezes ter sofrido assédio nos sets de gravação e, inclusive, saiu em defesa da própria Mc Pipokinha quando um rapaz tocou os seios da cantora em um show (pelo menos esta última já deixou bem clara sua opinião sobre assédio).

Em questão de minutos, a atriz passou de vítima a agressora, graças a uma simples fantasia de enfermeira. Talvez uma fantasia de médica ou de policial não causaria tanto rebuliço.

Agora imagine se uma enfermeira obesa decidia desfilar seminua no carnaval, só a título de exemplo. Ela certamente quererá que homens a vejam com olhos de cobiça. Caso contrário, preparem-se para a choradeira.

Por outro lado, feministas roliças ávidas por olhares masculinos que jamais atraíram, aderem à campanha “chega de fiu-fiu”, condenando o assédio que, no fundo do ego, gostariam de receber. Em verdade, elas não protestam por receber cantadas demais, mas por não suportarem ver as bonitinhas receberem tantos cortejos. Pura inveja!

Em São Paulo, a geração sem-glúten-sem-lactose conseguiu, por força de lei, que o Governo do Estado proibisse fogos de artifício com estampido, sob o argumento de que os mesmos assustam bichinhos de estimação. Costumo dizer que no Brasil do século XXI, cachorros não perseguem mais gatos, gatos não perseguem mais ratos, e ratos comem queijo sem lactose.

Animais da geração Nutella.

Tem até gente que não come carne sem saber se houve crueldade no processo de abate dos animaizinhos. Como se matar já não se tratasse de atrocidade, apesar de necessária. Na natureza não há clemência. Ou leões preocupam-se com a forma de predar zebras e gnus? Quem quer comer precisa matar. Simples.

Mas os señoritos satisfechos já se acostumaram com comida em abundância proporcionada pelo capitalismo. Podem dar-se ao luxo de escolher. Nem se preocupam se o excesso de regulamentações na produção de carne encarece o produto e o afasta cada vez mais da mesa dos pobres.

Nessas horas dá saudades da humorista Dercy Gonçalves. O que ela diria diante disso? “Deixa de viadagem e come logo esta merda, porra!” Dar-lhe-ia razão. Tanto coitadismo cansa. O que mais mereceria, além de um belo impropério, quem tira comida da boca dos miseráveis para defender mais “humanidade” com animais?

Esses amantes de lulus e fifis chegam ao absurdo de justificar a entrada de pets em ambientes de alimentação por, no conceito deles, andarem mais limpos que muita criança. Não raro vejo meninos famintos expulsos de restaurantes, enquanto cães e gatos sentam-se à mesa. A frase inflame “prefiro bicho que gente”, além de gramaticalmente incorreta, soa asquerosa, mas só aos ouvidos daqueles que os bonachões costumam chamar de fascistas.

Fascismo, por sinal, remete-me à tomada de Monte Castelo, em 1945. Brasileiros que um dia lutaram sob o rigoroso inverno italiano, mal armados, pouco agasalhados e subnutridos, hoje ofendem-se com qualquer sinceridade desagradável. Antes, balas feriam; hoje palavras machucam. E basta reclamarmos disso que nos incluirão no rol dos próprios fascistas que teríamos combatido na Segunda Guerra.

Professores, outra classe cheia de não-me-toques, vivem queixando-se de baixos salários, humilhações, excesso de trabalho. Vez por outra reclamam que estudam muito em troca de rendimentos muito inferiores aos de uma funkeira ou de um futebolista.

Pois pasme! Mc Pipokinha—ela de novo!—declarou em março deste ano: “para ser professora tem que amar muito a profissão, porque ouve desaforo dos filhos dos outros…e ainda receber o que um professor recebe, que é quase nada. Professor é humilhado pra c… só de ser um professor. Meu baile está R$ 70 mil: 30 minutinhos no palco, eu ganho R$ 70 mil. Ela não ganha nem R$ 5 mil sendo professora às vezes. Precisa estudar muito”.

Quase a lançaram ao ostracismo. Desmarcaram-se sete apresentações da cantora, obrigando-a pedir desculpas por proferir exatamente a mesma ladainha de todos os professores. Só que chorumela reversa não pode. Soa como humilhação à categoria.

A cada dia eu amo mais essas pipokinhas (resolvi chamar toda funkeira de pipokinha). Elas vêm exalando mais testosterona que muito ponta da seleção. Afinal, precisa-se de tanta coragem para enfrentar torcidas hostis e racistas quanto para apresentar-se seminua em um palco e resistir às esperadas investidas da plateia masculina. Por enquanto, pipokinhas sete, canarinhos um.

André Paschoal é médico e escritor.

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